Justificativa
Em 2020, a pandemia de Covid-19 evidenciou uma crise na relação da sociedade com o conhecimento científico, mas também enfatizou a relevância da ciência para combater fake news e preocupações fantasiosas. A Universidade reagiu empreendendo esforços e ocupando um lugar de destaque na produção de conhecimento diretamente ligado à pandemia, mas ainda há muito o que fazer para melhorar a relação da sociedade com o conhecimento científico.
Houve outra pandemia: uma onda de desinformação que envolve a Covid-19 e a ciência como um todo. A desinformação sobre a doença e sobre as vacinas e a proliferação de fake news se espalharam entre refugiados e imigrantes, assim como outros grupos historicamente marginalizados na sociedade brasileira, incluindo negras e negros e populações LGBTQIA+.
Em vários casos, as fake news atrapalham ou até inviabilizam a imunização, o que se tornou uma das principais ameaças à campanha de vacinação.
No trabalho de orientação voltado a refugiados, imigrantes e população em situação de rua no centro de pesquisa, cultura e ações sociais Bibli-ASPA, em parceria com a USP, é possível observar vários relatos – em línguas como crioulo haitiano, árabe, espanhol, wolof, francês e inglês, além do português – de pessoas que têm inquietações com efeitos fantasiosos da vacinação. Nesse contexto, os grupos de orientação têm contribuído significativamente para controlar e até mesmo reverter esse processo.

As incertezas trazidas pela pandemia agudizam questões candentes sobre desigualdades sociais, sexismo, racismo, xenofobia, exclusões múltiplas (como a social e, em decorrência, a digital) por meio de protagonismos variados mas sobretudo dos relacionados a “todas as identidades agredidas nos mais diferentes espaços geográficos”, como lembra Conceição Evaristo (EVARISTO: 2018).
A crescente diversidade na USP e em outras universidades, os olhares, saberes e narrativas trazidos para o âmbito acadêmico, e educacional em geral, por estudantes de escolas públicas e autodeclarados pretos, pardos e indígenas (PPIs), entre outros estudantes, têm gerado novos desafios e também novas potencialidades, pois a diversidade humana amplifica a geração de ideias e ações inovadoras em prol de uma sociedade mais justa, sustentável e democrática.
Nos últimos anos, a Ciência como um todo e a Universidade Pública, uma instituição de produção científica por excelência, passaram a sofrer ataques de toda sorte com motivação política. Com a pandemia e a atuação destacada da Universidade de São Paulo, com amplo reconhecimento da Sociedade, os esforços em desprestigiar a Ciência e a Universidade Pública tiveram, em partes, de se conter.